O FUTURO DO TRABALHO PARA OS JOVENS

À medida que a tecnologia avança e algumas carreiras se tornam redundantes, o que nos esperará no mercado de trabalho?

 

Com o atual burburinho que rodeia a evolução da Inteligência Artificial e a potencial substituição de postos de trabalho, até agora ocupados por trabalhadores de carne e osso, é inevitável questionarmos qual será o nosso papel na futura força de trabalho. Até que ponto seremos substituíveis? Até que ponto os empregos que hoje conhecemos, serão forçados a adaptar-se à transformação digital?

 

Foi nos anos 50 que John McCarthy, amplamente reconhecido como o pai da inteligência artificial, cunhou o termo “Artificial Intelligence”, que viria a definir como "a ciência da engenharia de fabricação de máquinas inteligentes”. Desde então, a inteligência artificial avançou a um ritmo surpreendente, expandindo-se para diversos campos e transformando radicalmente a maneira como interagimos com a tecnologia. Uma das mais notáveis recentes contribuições é o desenvolvimento de ferramentas como o ChatGPT. A imagem de robôs industriais a auxiliar na produção e montagem em fábricas não é desconhecida, mas, nos dias de hoje, a IA está a remodelar o ambiente de trabalho, automatizando tarefas repetitivas e substituindo empregos em vários setores. De acordo com dados do World of Economic Forum, é esperado que 42% das tarefas sejam automatizadas até 2027, em comparação com os 34% estimados de 2020. Tendo em conta o referido anteriormente, o impacto da automatização na força de trabalho é inegável, especialmente em ocupações centradas em tarefas de rotina e repetitivas, como entrada de dados, suporte administrativo e produção. No entanto, os avanços tecnológicos também anunciam o surgimento de novas oportunidades e a procura de competências especializadas. As projeções sugerem que, até 2027, surgirão aproximadamente 97 milhões de novos empregos, impulsionados pela expansão de indústrias como a ciência de dados (por exemplo, será necessário para empresas e entidades analistas para extrair conclusões dos grandes conjuntos de dados gerados pelas IA), a inteligência artificial (com a criação de novos algoritmos, o desenvolvimento de software compatível e a manutenção dos sistemas existentes), a cibersegurança e a saúde.

No entanto, apesar da promessa de novas funções surgirem à medida que se perdem outras, o ritmo acelerado da mudança tecnológica agrava as lacunas de competências existentes, colocando desafios tanto para os trabalhadores como para os empregadores. A adaptação a este novo mercado de trabalho exigirá uma mudança da forma como encaramos a formação académica. Ou seja, os trabalhadores terão de se comprometer a atualizar de forma contínua as suas competências, num esforço de permanecerem competitivos num cenário em perpétua mudança. Assim, para navegar eficazmente neste futuro, as abordagens estratégicas são imperativas tanto para os indivíduos, como para as empresas como para aqueles em cargos políticos.

Para os indivíduos, são essenciais medidas proativas, como a identificação de lacunas de competências, o envolvimento em iniciativas de aprendizagem ao longo da vida e a promoção de redes profissionais. Da mesma forma, as empresas devem investir em programas de desenvolvimento de competências, adotar modalidades de trabalho flexíveis para atrair e reter talentos e cultivar culturas de inovação para se manterem à frente da curva.

Os decisores políticos desempenham um papel crucial na definição do futuro do trabalho, atribuindo recursos à educação e à formação, colaborando com os líderes da indústria para identificar futuras necessidades de competências e promovendo iniciativas de aprendizagem ao longo da vida para melhorar e requalificar a força de trabalho.

Ao abordar coletivamente os desafios e oportunidades apresentados pelo futuro do trabalho, as partes interessadas podem assim garantir uma melhor transição para um mercado de trabalho mais equitativo e próspero.

 

Mas onde fica Portugal neste admirável novo mundo? Certas estimativas apontam para que, devido à automação, Portugal perca, até 2030, cerca de 1.1 milhões de empregos. Isso equivale a cerca de 25% do número de empregos que hoje possuímos. Contudo, também se estima que haja uma potencial de criação de emprego que varia entre os 600 mil a 1.1 milhões. Apesar disso, cerca de 15% da população ativa, mesmo numa situação de igualdade entre ganhos e perdas de empregos, terá de se readaptar. Por isso, e como referido acima, uma abordagem que passa pela preparação dos jovens para os desafios do futuro, especialmente para aqueles que já estão a trabalhar e vão precisar de se reinventar, é essencial. Afinal, nesta transição para o digital, as habilidades mais procuradas serão aquelas irreplicáveis pelas máquinas, nomeadamente, a capacidade de liderar, de lidar com o outro, de motivar e de saber trabalhar em equipa. Maior parte da população não estaria inclinada a querer, por exemplo, que o médico seja um robô. No entanto, a perspetiva de este ser auxiliado pela inteligência artificial não é, de todo, tão preocupante.

 

Do ponto de vista de João César das Neves, professor catedrático da Universidade Católica Portuguesa, o nosso país ganhou o último confronto tecnológico: o turismo. Atualmente, as pessoas não procuram tanto por bens como procuram por experiências e novas realidades. Ao apostar em tornar o nosso país o local das experiências, da qualidade, não só com a sua cultura, mas também geografia teremos sucesso em expandir aquilo que hoje já representa cerca de 15% da economia portuguesa.

Segundo Carlos Gaspar, investigador do Instituto Português de Relações Internacionais na Universidade Nova de Lisboa, este acredita que se deve escolher ainda outros segmentos de especialização na economia que sejam portadores de futuro, nomeadamente a economia dos cuidados e a economia do mar. Com o preocupante envelhecimento demográfico não só da Europa, mas também da China, do Japão e até dos EUA este pode ser entendido como um mercado em expansão. Os nossos hospitais possuem já uma certa especialização na terceira idade e não é ao acaso que encontramos médicos e enfermeiros portugueses por toda a parte,

particularmente enfermeiros portugueses na Grã-Bretanha.

Por outro lado, a economia do mar destaca-se igualmente como algo a ter em conta. Se considerarmos a nossa dimensão marítima, à luz do Direito do Mar, teremos um país com cerca de 4 milhões de km2, um valor 40 vezes superior à nossa dimensão terrestre. Com isto, possuímos uma quantidade de matéria-prima extraordinária, incontáveis oportunidades de crescimento sustentável, variadas possibilidades para a biodiversidade e até energias renováveis. Contudo, entra aqui a necessidade de ter bons parceiros uma vez que países como a Alemanha e os EUA são aqueles na vanguarda em domínios como a mineração submarina ou a meteorologia.

Concluindo, é inegável que a grande maioria dos empregos existentes hoje enfrenta uma ameaça iminente de extinção nas décadas que se aproximam. Novas profissões irão emergir, mas estas estarão provavelmente inseridas em campos que exigirão habilidades adaptáveis, dificilmente substituíveis pela IA porque exigem criatividade e empatia.

 No entanto, é incerto se trabalhadores de setores tradicionais, como motoristas de táxi ou agentes de seguros, conseguirão reinventar-se com sucesso nesses novos papéis. Mesmo que consigam, o ritmo acelerado do progresso tecnológico sugere que essa transição pode precisar de ser repetida várias vezes ao longo das suas carreiras.

  O desafio fundamental não reside apenas na criação de novas oportunidades de trabalho, mas na criação de empregos que os seres humanos possam realizar de maneira mais eficaz do que os algoritmos. Com isto, caso tal reinvenção seja impossível, cairá sobre os governos encontrar dentro deles funções para aqueles que verão os seus ofícios tornarem-se obsoletos.

 

 

 

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