MAL O TIVE, SOUBE QUE ERA BURNOUT

Setembro de 2019,

A mudança estava a acontecer, do nada saí de casa dos pais, rumo a uma cidade, de certa forma desconhecida, sem amigos, sem conforto, sem nada, nada era o que eu senti nos primeiros dias de aulas na Faculdade.

Quanto às aulas, logo no primeiro dia senti que a tarefa não ia ser fácil. A minha premonição verificava-se passado 2 meses com a chegada das frequências. Na altura não consegui perceber o que poderia quebrar nesse processo. 

Qual foi a minha surpresa quando eu percebi que fui eu que quebrei, é simples, não estava preparado para a mudança.

Deixem-me contar-vos um pouco da minha história. Um miúdo, com os seus 17 anos, terminava o 12º ano com a certeza de que Gestão era o futuro, mas como poderia eu garantir que esse era o futuro?

Decidi ir trabalhar, em part-time, retirar peso dos meus pais para que eles pudessem viver a vida que queriam sem terem de suportar 500€ mensais. Esse foi o grande passo, e agora como ia gerir tudo isto?

Ora então, Faculdade, Trabalho, Frequências, Família, e apenas eu. Não estava preparado para gerir tudo isto. Até que tive aquilo que não sabia o que era, estar em BURNOUT.

Soube que o tinha quando ao estudar para Microeconomia, desatava a chorar compulsivamente, porque não compreendia o desenvolvimento de 2/3 gráficos. Sim, é ridículo, mas é verdade, reconheço agora o padrão que se sucedia: suores, visão desfocada, batimentos cardíacos acelerados, um descontrolo total que culminava em puro desespero. Só pensava em desistir, achava que não era esse o meu caminho.

Rapidamente percebi que algo estava errado, depressa os meus familiares perceberam que eu não estava bem e realmente, não estava, pedi ajuda. Como era de esperar, a minha dor passou a ser a dos meus. Tudo queriam fazer, tudo fizeram, mas era eu que tinha que superar. É claro que o apoio foi fundamental, aí percebi que a minha família é o que de mais importante tenho.

Como resolver? Incentivaram-me para que fosse ter com alguém especializado, recorri a  livros, amigos, utilizei de tudo, pouco ajudou a nível de conhecimento, porque o problema nunca foi não saber. Mais tarde percebi que tudo isto foi crucial para me dar aquela confiança que eu precisava, o boost inicial para sair da lama.

O momento foi difícil, extremamente rebuscado a nível mental. Na altura não sabia, mas passei este período a enfrentar algum tipo de depressão, isto claro, ao mesmo tempo que tentava manter todo o meu empenho no trabalho.

Foi uma longa caminhada... Passou o dia da frequência e chegou o dia do resultado, quem diria… nem eu próprio pensei que fosse possível, mas consegui. Microeconomia, o bicho de sete cabeças que afinal era tão simples.

Foi o ponto de viragem, uma mudança profunda estaria para acontecer. Conheci a meditação, os livros que tanto me ajudaram e dei muito mais valor aos verdadeiros pilares da minha vida, a minha família.

Dar a ressalva, que não é normal esta situação, devemos lutar pelo bom sucesso académico, mas acima de tudo está a saúde mental e o equilíbrio que devemos sempre procurar. 

Segundo a Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, 16,5% dos Portugueses lidam com questões de ansiedade, e segundo o DGS, mais de 500 milhões de pessoas, em todo o mundo são afetadas pela depressão. Urge a necessidade de sensibilização e tomada de medidas de prevenção, visto que cada vez mais a saúde mental ganha maior relevância na sociedade revelando-se um flagelo a nível económico, social, político e pessoal. 

Nunca hesitem em pedir ajuda, fazer o devido acompanhamento e ter em atenção todos os possíveis sinais de risco.

Nuno Neves, Coordenador da Divisão de Projetos e Eventos 

 

Nuno Neves

 
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