SE TODOS QUISÉSSEMOS O MUNDO PODERIA SER EXTRAORDINÁRIO

1931, Campo Maior, Alto Alentejo. Vive-se o início da ditadura que ainda vai perdurar por mais 40 anos em Portugal, a pobreza é muita, a qualidade de vida quase inexistente e é neste contexto que nasce e se faz homem, Manuel Rui Azinhas Nabeiro.

     Desde os 12 anos que já começa a ajudar o pai e os tios no negócio da torra do café. Quando o seu pai morre, tinha Rui apenas 17 anos, assume os destinos da pequena torrefação que possuíam e cria a Torrefação Camelo em sociedade com os tios, a qual alguns anos depois deixa de gerir, dando assim origem à Delta Cafés em 1961, marca que rapidamente se estabelece como líder de mercado em Portugal, torna-se um grupo que opera nos mais variados setores da economia desde o imobiliário ao setor agrícola e se expande para mais de 30 países, neste momento conta com cerca de 3800 colaboradores por todo o mundo, e apresentou lucros na ordem dos 400 M€ no ano passado. Estamos a falar de um dos maiores grupos económicos portugueses.

      Apesar de este ser um currículo excecional para qualquer empresário, o que torna Rui Nabeiro um empresário fora do comum, ao nível das homenagens também fora do comum que lhe foram prestadas tanto em vida como a título póstumo. Desde o facto de ser Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, que é uma das maiores honras que qualquer cidadão português pode receber, até ao dia da sua morte em que se endereçaram notas de pesar de pessoas e instituições dos ramos mais diversos da nossa sociedade. No meu ponto de vista, o fator que torna o “Comendador” diferente dos demais empresários de sucesso portugueses é a maneira diferenciada que este tinha de pensar o seu negócio.

      Como é conhecimento geral, Campo Maior não é nenhuma metrópole, e até seria mais fácil e vantajoso para a Delta ter o seu centro de operações em Lisboa ou no Porto por uma questão de proximidade aos clientes, acessibilidades de transportes e retenção de talento e mão de obra. Porém, Rui Nabeiro era uma pessoa muito ligada à sua terra e à sua família, portanto, não havia benefício nenhum para a sua terra ou a sua família, ter a fábrica da Delta localizada em Lisboa ou no Porto, isto apesar de uma grande parte das operações do Grupo Nabeiro atualmente já serem efetuadas em Lisboa. Desta forma, Rui pensou no que seria melhor para a sua terra, e assim deixou a sua empresa sediada em Campo Maior, criando postos de trabalho, e razões para fixar a população, algo que, num território que sofre em termos demográficos, o que o Alto Alentejo sofre, é bastante notório. Em entrevista ao Expresso, o diretor do Agrupamento de Escolas de Campo Maior, Jaime Carmona, refere que hoje em dia o agrupamento que dirige tem 1400 alunos, algo que não acontece nos agrupamentos vizinhos, e que tal número só é possível uma vez que existe emprego na vila, emprego que em grande parte se deve a Rui Nabeiro pois, só a fábrica da Delta emprega um terço da população.

      Mas não se pense que o Sr. Rui, como é conhecido pelos Campomaiorenses, tinha como único investimento na região a Delta. Comparticipou, em parte, o Hospital de Elvas que serve a sua terra natal, investiu em vários projetos de cariz social e desportivo. Investiu e foi presidente do Campomaiorense levando o clube até à final do Jamor em 1999, e à primeira divisão do futebol nacional tornando assim este, o único clube do distrito de Portalegre a atingir ambos os feitos, promovendo a prática desportiva entre a população de Campo Maior, em especial a mais jovem.

      Para concluir, o êxodo rural e o envelhecimento generalizado que assola Portugal são, de facto, dois dos maiores problemas que a nossa geração vai ter de enfrentar no futuro quando tomarmos as rédeas do nosso país, assim sendo, urge-se a necessidade deste espírito empreendedor que não pense apenas nos lucros e que se preocupe com as comunidadesem que as empresas estão inseridas, não somente pelos benefícios fiscais que as atividades de responsabilidade socialtrazem, mas realmente com o intuito de dinamizar as localidades menos povoadas deste país, uma vez que, a única maneira de fixarmos a população numa certa região é através da criação de postos de trabalho e oportunidades para os jovens qualificados e, sendo eu originário de uma zona muito envelhecida e despovoada, similar a Campo Maiornesse aspeto, também sinto na pele o que é querer-se fixar numa cidade mas simplesmente não existirem oportunidades de emprego decentes para tal. E, desta maneira, cabe-nos a nós empresários do futuro mudar este paradigma e mudar este Portugal.  


Nuno Gouveia, Colaborador do Departamento Comercial

 

Nuno Gouveia

 
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